EDUCAÇÃO

Música na escola: tradição, resistência e novos caminhos

经过 安德烈·阿劳若·利马 25/06/2023 (atualizado em 24/09/2025)

A música não é apenas som organizado. É memória, linguagem universal e experiência sensível. Ela acompanha a humanidade desde os cantos ancestrais até os hits que ecoam nas plataformas digitais. Pensar a formação musical, portanto, é refletir sobre como cultivamos escuta, imaginação e diálogo em um mundo saturado de ruídos. Seja no espaço escolar ou em experiências comunitárias, a música nunca é neutra. Ela revela valores, disputas culturais e formas de resistência. Colocá-la no centro da educação é reconhecer que educar não é apenas transmitir conteúdos, mas criar condições para que sujeitos se reconheçam como parte de uma tradição e, ao mesmo tempo, sejam capazes de reinventar novos caminhos.

A história da música na educação brasileira revela tensões profundas. Durante a colonização, os jesuítas usaram o canto sacro como ferramenta de evangelização e disciplina. A música estava ligada ao controle, ao ritmo das liturgias, à formação de corpos obedientes. Mais tarde, com a chegada da corte portuguesa e a criação de academias e conservatórios, consolidou-se um modelo europeu, elitizado, distante da pluralidade cultural do Brasil. No entanto, à margem dessa oficialidade, resistiam batuques, sambas, modinhas, cantigas de trabalho e toadas transmitidas de geração em geração. Essas práticas populares criaram uma pedagogia diferente: coletiva, comunitária, vivida em roda. Essa tensão entre tradição institucional e resistência cultural marca até hoje o ensino musical no país. Reconhecer essa dualidade é essencial: não se trata de escolher entre Bach e o samba de roda, mas de admitir que ambos expressam formas legítimas de saber e que a escola não pode se limitar a uma única voz.

A Lei 11.769/2008, que tornou obrigatório o ensino de música nas escolas brasileiras, representou um avanço, ao trazer para a pauta educacional uma área historicamente negligenciada. Contudo, sua implementação revelou impasses. Muitos professores não tinham formação específica, os currículos eram engessados e, em muitos casos, a música passou a ser tratada como adorno, não como experiência formativa. Há ainda a questão da polivalência. Em muitas escolas, um único professor de artes precisa dar conta de teatro, dança, artes visuais e música. Essa realidade expõe não apenas a sobrecarga docente, mas também o modo como a arte é vista como acessório, e não como conhecimento estruturante. A pergunta permanece: que lugar a música ocupa hoje no projeto educacional brasileiro?

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Ensinar música não é apenas treinar vozes afinadas ou mãos ágeis no instrumento. É, sobretudo, formar ouvintes atentos, capazes de improvisar, escutar o outro e reconhecer a diversidade cultural que os cerca. A música, enquanto linguagem, oferece ao estudante uma experiência estética que é também ética. Ela ensina a conviver com diferenças, a esperar o tempo do outro, a respeitar os silêncios. É uma pedagogia da escuta. Ignorar os repertórios vivos dos estudantes — o funk das periferias, o rap das ruas, o sertanejo das feiras — é perder a chance de construir pontes entre a escola e a vida real. A música escolar precisa dialogar tanto com a técnica quanto com a experiência, tanto com o erudito quanto com o popular.

Ensinar música não é apenas treinar vozes afinadas ou mãos ágeis no instrumento. É, sobretudo, formar ouvintes atentos, capazes de improvisar, escutar o outro e reconhecer a diversidade cultural que os cerca. A música, enquanto linguagem, oferece ao estudante uma experiência estética que é também ética. Ela ensina a cultivar as diferenças, a esperar o tempo do outro, a respeitar os silêncios. É uma pedagogia da escuta. Ignorar os repertórios vivos dos estudantes — o funk das periferias, o rap das ruas, o batuque dos terreiros — é perder a chance de construir pontes entre a escola e a vida real. A música escolar precisa dialogar tanto com a técnica quanto com a experiência, tanto com o erudito quanto com o popular.

Não se pode pensar o ensino musical sem considerar seu caráter político. Quem decide o que é válido aprender? Quais repertórios entram no currículo e quais são descartados? Valorizar apenas as tradições europeias é reproduzir exclusões históricas. Reconhecer práticas populares é afirmar a potência da cultura viva. O ensino musical precisa ser crítico, capaz de revelar que a música é também espaço de disputa social e política. Ao mesmo tempo, é importante garantir condições de acesso: instrumentos, salas equipadas, professores formados. A resistência também passa pelo direito a uma educação de qualidade, que não transforme a música em privilégio de poucos.

Educar pela música é muito mais que formar instrumentistas. É educar a escuta, a sensibilidade e a convivência. É preparar sujeitos capazes de criar e dialogar com as múltiplas sonoridades que compõem nossa vida cotidiana. O desafio é equilibrar tradição, resistência e novos caminhos. A música pode ser, ao mesmo tempo, herança e invenção, memória e futuro. A pergunta que fica é: como queremos que as próximas gerações escutem o mundo? Talvez a resposta não esteja apenas nas partituras, mas nas experiências sonoras que atravessam nossas casas, ruas e corpos.

Como citar este artigo:

LIMA, André Luiz de Araújo.
Música na escola: tradição, resistência e novos caminhos.
Disponível em: https://www.sonhosentrepedras.com.br/pt/musica-na-escola-tradicao-resistencia-e-novos-caminhos .
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